Death Note erra ao não conhecer sua essência | Crítica
Em mundo onde as adaptações estão cada vez mais populares, como os heróis do Universo Cinematográfico da Marvel, fica-se esperando cada vez mais uma boa adaptação de animes e mangás, obras japonesas de imensa popularidade. Os próprios japoneses já mostraram que isso é possível, com obras excelentes como Bakuman, porém o mesmo não pode se dizer para os americanos. Dragon Ball Evolution, Speed Racer, Ghost in the Shell são considerados filmes desapontantes. Porém, talvez fosse a tentativa de colocar mundos fantásticos demais na realidade que não funcionasse, talvez, o sucesso da Shonen Jump: Death Note pudesse ser diferente. Mas, infelizmente, não é isso que acontece.

A adaptação de Death Note trás Light Turner, um brilhante estudante do ensino médio, como protagonista. Nessa versão, Light é tem uma personalidade mais boba do que na obra original, as vezes é difícil de ver o mesmo personagem ali, e para o funcionamento geral da história, isso faz muita diferença. O personagem principal é acompanhado por Mia Sutton, uma versão americanizada de Misa, se é que podemos dizer assim, pois a personagem não tem traços nenhum da sua contraparte japonesa, porém é fácil de entender que uma adaptação tão literal não funcionaria no mundo desse filme.
A relação entre Mia e Light evolui muito rápido. É difícil de acreditar. Porém, roteiro a parte, a química entre os atores funciona bem e apesar de não transpassar a mesma relação do quadrinho original, o casal forma um par interessante. No filme, Kira é praticamente uma mistura dos ideais de ambos os personagens.
Falando em Kira, talvez aqui seja apresentada a versão mais pobre do personagem. Em todo o filme são apresentados assassinatos simples e sem criatividade, se aproveitando somente um pouco da habilidade de manipulação do Death Note. Não há nada parecido com os encontros geniais com Lind L. Tailor, Raye Penber ou até a cena com o assaltante no ônibus.
Ainda falando dos assassinatos, na obra original era muito utilizado o ataque cardíaco e aqui, o diretor que não parece entender o mangá, faz cenas exageradas com gore e cheias de motivações fúteis como vingança. Destaque para a primeira morte do longa, motivada por vingança de uma situação boba, algo que o Light verdadeiro nunca faria.
O detetive L é um dos personagens mais bem adaptados. As suas manias, o jeito de andar arcado, sentar erguido na cadeira e comer doces estão todas aqui. Além da calma e inteligência. A química entre L e Light, apresentados como opostos na obra original, funciona aqui, porém é decepcionante a maneira em o quanto isso se torna secundário. Light parece mais um oposto do seu pai, do que de de L. Os debates entre justiça não existem no filme além de uma breve menção. Porém L também tem alguns momentos de péssimo roteiro, em que o detetive interessante é substituído por alguma resolução ex machina ou muda seu comportamento abruptamente.
Ryuk interpretado por Willem Dafoe é uma das melhores partes do filme. O personagem age como uma figura misteriosa. Há momentos de alivio cômico, como há de terror. O Shinigami é mantido na sombras, seus olhos amarelos brilham em meio a silhueta. O visual do personagem e feito com uma mistura de CG e efeitos práticos. Visualmente é uma das técnicas mais interessantes utilizada no filme e certamente algo positivo sobre a direção.
Os melhores momentos do filme são o que ele adapta os momentos do mangá. Aqui coloco um adendo pessoal: Eu não sou contra adaptações, eu gosto de ver uma outra visão da obra, mas Death Note sofre um roteiro fraco. As adições e liberdades criativas não se comparam ao que já estava escrito e falha em se tornar interessante. Porém cenas em que Light procura por criminosos, fala em ser um deus ou o discurso de L, são definitivamente interessantes. Clichês de escola americana como detenção, valentões e baile estão presente no filme e não adicionam nada ao roteiro.
O terceiro ato do filme destrói tudo construído anteriormente. Se tivemos cenas interessante do Kira e do detetive L, aqui tudo é jogado fora. Em uma resolução extremamente genérica, com direito a uma piada infame e uma sequência desnecessária na roda gigante, o diretor Adam Wingard coloca em uma história humana e psicológica uma cena que parece ter saído direto de O Espetacular Homem Aranha. Com direito a slow motion e música dramática, como um clipe do Linkin Park. Totalmente fora do tom e utilizada somente pela grandeza.
Para concluir, Death Note não é um péssimo filme. Com certeza é melhor que Dragon Ball Evolution, mas ainda está longe de ser aquela adaptação de mangá que sonhamos um dia chegar as telas. Atuações inconsistentes, um péssimo roteiro e direção, porém com uma bela produção e uma história original interessante fazem de Death Note um filme divertido, bom para passar o tempo, porém que não marca a história dos filmes e nem de adaptações de maneira positiva. Agora esperamos que Cavaleiros do Zodíaco e Akira nos salvem desse mal.
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